As organizações apresentam diferentes tipologias de estrutura e funcionamento dependendo a sua sobrevivência, grosso modo, da forma como estas se estruturam em face das finalidades ou resultados específicos que perseguem.
Numa estruturação ou reestruturação organizacional, a serem prosseguidos a eficíência e eficácia organizacional, há que definir sem ambiguidades os resultados ou finalidades da mesma. Em linguagem de gíria política designam-se de reformas.
Os resultados ou finalidades de uma organização são muito distintos. Desde a optimização da produção de uma peça para automóveis, passando pela comercialização de uma qualquer marca, a empresas que comercializam serviços de todos os tipos - limpezas em grandes superfícies comerciais, marketing publicitário em nicho de mercado altamente especializado ou arquitectura paisagista. Os objectivos são previamente traçados para viabilidade económica das empresas.
Nos casos das áreas da saúde e da educação, por exemplo, a definição de resultados ou finalidades - prestar serviços de saúde e prestar serviços educativos - é muito mais complexa, mesmo que confinados aos aspectos socialmente convencionais (ter boas notas nos testes disciplinares de determinado ano de escolaridade, no caso da Educação), por estes serviços envolverem factores totalmente impossíveis de controlo pelos seus operacionais, os profissionais especializados, médicos e professores. Muito embora todas as prescrições e procedimentos sejam tomadas, por um médico, no tratamento de uma mesma patologia, há pacientes que sobrevivem e outros que sucumbem e morrem. Muito embora todos os procedimentos sejam tomadas, por um professor, na recuperação de alunos com dificuldades de aprendizagem numa ou mais matérias disciplinares, há alunos que conseguem ultrapassar essas dificuldades diagnosticadas e progredir, e outros que o não conseguem e se atrasam, podendo não ter capacidades para prosseguir quaisquer estudos.
As organizações privadas do sector da educação alicerçam toda a sua intervenção no lucro. Seleccionam os seus clientes organizacionais e demandam fins com retorno imediato na forma mensurável de notas disciplinares, no prosseguimento do bom nome no nicho de mercado do seu investimento. A educação, nestas circunstâncias, apresenta uma forma de segregação social, existindo muita investigação que aponta para prezuízos do ponto de vista da adaptabilidade social e outros, no médio e longo prazo, na vida de muitos destes jovens.
No sector público do Ensino, desde o 25 de Abril de 1974, que tem sido prescrito às escolas e professores, pelos inúmeros ministros que demandaram o sector, um rol imenso de atribuições da esfera societal, muitos deles contraditórios. Cada nova equipa (o topo estratégico da organização ME) alterou substancialmente as prescrições ou pedidos dirigidos aos professores (as bases operacionais). Por outro lado, o ministério da Educação funciona na base de uma longa cadeia hierárquica (burocracia mecanicista), impondo ás pequenas unidades operacionais ou escolas, muito dispersas territorialmente, todas as prescrições e normativos, mas nunca se questionou (nem questiona) sobre a sua aplicabilidade ou sustentabilidade de tais medidas, quer em termos de recursos humanos ou custos materiais. São conhecidas de todos os que trabalham nas escolas, as peripécias crónicas e constantes com que as escolas se confrontam permanentemente no seu funcionamento, por os serviços regionais, centrais e governamentais terem, na maior parte das vezes, um conhecimento muito reduzido das realidades das escolas. A administração educativa é uma máquina asfixiante que só a imensa paciência e o brio profissional de professores suportaram ao longo de todos estes anos.
Os pedidos explícitos (e implícitos) da administração escolar foram permanentemente alterados, consoante os ocupantes da cadeira da 5 de Outubro, através de reformas contínuas e sempre sem ter em conta a sua adequação, implementação e funcionamento.
Nada mudou desde então até hoje, com uma grave excepção: nunca desde o 25 de Abril de 1974 os professores foram publicamente acusados dos desmandos das políticas educativas e da máquina burocrática do ME.
A actual equipa da 5 de Outubro demonstra não ter a mínima ideia de quais os resultados ou finalidades, que ao longo destes mais de 30 anos, foram pedidos aos professores da Escola Pública pelos anteriores ministros dos governos e pela administração escolar. Como pode defini-los como "fracos" resultados?
Na página 12 do "Estudo sobre a Reorganização da Carreira Docente do ME", encomendada por Maria de Lurdes Rodrigues, na qualidade de ministra da Educação, no início do seu mandato ao seu mentor técnico-ideológico o sociólogo João Freire, lê-se " Diagnóstico - Á partida, pareceu que a situação actual de organização e funcionamento da carreira dos professores dos ensinos básico e secundário podia ser descrita sinteticamente da forma seguinte: - Fraco rendimento do sistema, medido pela insuficiente qualidade dos "formados"»
Em que se baseia João Freire para o assumir como diagnóstico ou ponto de partida para o (seu) estudo de reestruturação da carreira docente?
Como é possível um professor catedrático de Sociologia do Trabalho se prestar a tal exercício de baixa política quando, é suposto, lhe ter sido pedido é um estudo técnico!?
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