domingo, 28 de dezembro de 2008

Existem maus professores. O caso de Maria Lurdes Rodrigues é exemplar.

Maria de Lurdes Rodrigues, actual responsável pelo sector da Educação, foi professora do Ensino Básico, à data designado de Ensino Primário. De tal forma terá sido uma experiência traumática, que no seu currículo oficial, publicitado no site do ME, (a sua única mais-valia para o desempenho de titular da Pasta governativa), tal experiência profissional não consta.

Os professores defendem a Escola Pública, que se define pelo acesso de todos ao melhor que a nossa civilização oferece.
A Escola Pública está a ser defendida pelos melhores professores ou por todos os professores?
Numa primeira fase, a Escola Pública foi defendida pelos melhores professores. Nesta fase, já está a ser defendida pelos bons professores. Os maus professores são muito poucos.
Geralmente, os maus professores, na primeira oportunidade, saiem definitivamente da sala de aula e abandonam a Escola. Tal aconteceu com José Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues, Valter Lemos e Jorge Pedreira.
Numa viagem recente, uma amiga psicóloga, questionou-me sobre a selecção de professores. Respondi-lhe que ninguém aguenta a docência se não tiver a mínima identidade com a profissão. Simplesmente, sai. É uma selecção natural. Ninguém consegue exercer a medicina se não se identificar com aquele "algo mais" que ninguém explica mas que tem contornos simbólicos, de difícil expressão por palavras. O mesmo se passa com a docência nos Ensinos Básico e Secundário.
Relatou-me, então, uma experiência pessoal. O seu marido, professor de Filosofia, terá ficado gravemente doente. Foi convidada a substituí-lo no colégio onde este leccionava e aceitou. Disse-me que teria colocado, no início de carreira, a possibilidade de enveredar pelo Ensino.
A experiência de leccionação, de umas semanas no colégio de alunos seleccionadíssimos (um colégio de elite de Lisboa), fê-la nunca mais pensar em Ensino. Respondi-lhe que tinha sido, afinal ,ela, a dar resposta à pergunta que me tinha formulado.
Existem maus professores?
Existem. Todos aqueles que não estão na sala de aula ou que querem fugir dela como o diabo foge da cruz.
MLR, com a apologia de cargos e tretas que desembocou no titular, e na (des)avaliação profissional, afinal, está ou não a inverter a pirâmide do mérito de desempenho profissional, á sua imagem e semelhança? É que na primeira oportunidade, zarpou do Ensino.
13? Ou mais?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O que é uma Escola? Acerca do(s) Encontro(s)! ...

De um artigo que escrevi em Fevereiro de 2005, apresentado, publicamente, a um grupo de não professores.
O que é a Escola?
O Encontro
O Rui é já homem feito. Tem 27 anos. Mas os seus passos são muito arrastados, os gestos muito descordenados e da boca quase não lhe sai um som. Caminhou e continuará a caminhar pela vida de um modo “diferente” da maioria. Uma lesão no cérebro incapacitou-o para o resto da vida, a nível motor. O Rui tem paralisia cerebral. E uma história pessoal. Como todos nós. Paradoxalmente tão diferente e tão igual à de todos nós “normais”.
Conheci-o recentemente pela mão de uma sua antiga professora de Língua Portuguesa numa daquelas tardes dedicadas às compras. A loja do Rui é um pequeno estabelecimento comercial erguido com a colaboração dos pais. As solidariedades de bairro funcionam. Conhecem-no. Ele fica muitas vezes sozinho no estabelecimento. Citando a professora: “Os pais são dois exemplos vivos da coragem de enfrentar a adversidade, lutadores, conscientes da condição do filho mas com a firmeza de olhar dos que sabem trilhar o caminho certo. Ainda bem que o Rui tem aqueles pais”!
Entre vestir/despir calças e saias presenciei que professora e aluno dialogavam. Mas como era isso possível? O mistério decifrei-o na leitura do testemunho escrito daquele já longínquo ano lectivo: “Na hora seguinte, a primeira hora de apoio individual ao Rui comecei por lhe dar mais pormenores a meu respeito e só o seu olhar me sorria ou ficava mais sério. Propus-lhe então um negócio: eu ensinava-lhe a fazer sair do peito os tesouros lindos que ainda ninguém vira e ele ensinava-me a sua linguagem muito mais difícil de dominar do que a minha. Ele percebeu e concordou. E resultou. Hoje entendo sem problemas o que o Rui diz”. Felizmente há professores que não desistem! Qualquer sociedade tem os seus loucos. Bem hajam!
Falam do “Fernão” aos seus alunos, de poesia e sonho e contam-lhes as lutas que uma gaivota teve que vencer com o bando, com a família, os amigos, consigo próprio, etc. Numa aula sobre interesses e ilusões o Rui disse querer ser paraquedista. Alguém comentou: “Mas tu não podes”! Ele esclareceu: “Posso. Em pensamento”! Rui Gaivota, pois claro!
Ajeito-me na cadeira, envergonhada, imaginando por quantas peripécias aquela família não terá passado e por quantas não irá ainda passar. O Rui contou com uma professora que lhe falou do “Fernão”, de uns pais lutadores e de algumas boas vontade, de certo. E com que mais?
A escola básica que o Rui frequentou foi pioneira na integração de alunos portadores de deficiência em turmas regulares. Os alunos seguem um currículo escolar adaptado às suas características.
Em 1994 Portugal subscreveu a “Declaração de Salamanca”, que sintetiza as conclusões sobre escolas inclusivas. “Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem de modo a garantir um bom nível de educação para todos…é preciso, portanto, um conjunto de apoios e serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da escola”.Em 1997 os professores de educação especial são desafiados a assumir outras responsabilidades. O rosto das escolas muda ainda mais. Estão fisicamente lá todos. Na escola, de todas as cores, culturas, classes sociais, todo o tipo de dificuldades. Mas em cada turma, alguns não falam a língua de Camões, outros apresentam dificuldades motoras e/ou mentais, alguns com dificuldades em diversas disciplinas, outros em fuga à escolaridade, alguns com problemas familiares graves, para não falar nos que cada vez mais apresentam problemas comportamentais de vária ordem.
Para além dos professores disciplinares das turmas, não existem nas escolas portuguesas, como em outros sistemas de Ensino da Europa civilizada, outros técnicos (psicólogos, assistentes sociais, terapeutas) e professores de apoio individual ou pequeno grupo.
Os professores sabem. E…uns vão desistindo gradualmente, outros optam por boiar e…felizmente, ainda há quem vá resistindo! Até quando?
(...)
“ O Rui ia crescendo em todos os sentidos e, sem me dar conta, eu ia crescendo com ele. O fim de Junho proporciona-nos o adeus temporário às aulas, aos recreios saltitados por passarada colorida e barulhenta. Para mim foi muito mais. Foi um até já ansioso ao miúdo que tanto me ensinou do amor à vida. …O ano está no princípio e à minha espera está uma gaivota muito especial!
Por mim continuo a acreditar no Fernão.
Que nunca as gaivotas nos deixem!”
*As aspas, correspondem a excertos do texto do Relatório Crítico da Professora de Língua Portuguesa do Rui, elaborado para apreciação pela Comissão de Avaliação do Conselho Pedagógico da sua escola, para transição de escalão.
Bom Natal!!!

sábado, 20 de dezembro de 2008

A luta dos Professores não será, afinal, a luta para que os deixem ser, simplesmente, Professores?

O sector da Educação, em Portugal, está organizado em serviços governamentais, sediados na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, que definem as políticas de cada Governo da República para o sector; serviços centrais, sediados na Avenida 24 de Julho, em Lisboa, que definem ou redefinem as orientações de política educativa, emanadas dos serviços governamentais, e que destes dependem politicamente; serviços regionais, organizados em cinco direcções regionais, que executam as políticas emanadas dos serviços governamentais e centrais, que dependem politicamente da equipa do governo para o sector.
As Escolas ou Agrupamentos de Escolas são as Unidades Operacionais do sector da Educação. Os operacionais ou trabalhadores do sector da Educação designam-se de Professores. Os Professores não têm qualquer controlo na definição das políticas educativas. São meros executores das políticas educativas emanadas dos serviços governamentais, centrais e regionais. Em cadeia hierárquica.
A cada alteração política das equipas governativas para o sector, correspondem alterações na estrutura hierárquica nos serviços governamentais, centrais e regionais. E na filosofia e praxis para o sector.
Até ao momento, sómente as Escolas têm sobrevivido à intromissão do primado do político-partidário sobre o técnico.
Os actuais responsáveis políticos do Governo, para o sector da Educação, introduziram uma mudança substancial. Os Conselhos Executivos, órgãos de gestão das Escolas, passaram a veicular as orientações de política partidária do governo, directamente dentro das Escolas, tornando-se, grosso modo, comissários políticos. O braço político-partidário dos governos entrou, pela mão desta ministra e deste governo, nas Escolas, onde existia, até à data, o primado do técnico-profissional e do investimento na sala de aula e nos alunos, sobre os interesses político-partidários.
Os Professores sentem a sua profissão ameaçada. Sabem, que para sobreviver dentro do sistema, tal como este actualmente se apresenta, terão que deixar de ser professores, para se tornarem algo que nega o seu próprio estatuto profissional (de professores).
Este facto, determina que são, inevitavelmente, os melhores professores aqueles que estão verdadeiramente em guerra aberta com esta ministra e com este primeiro ministro. Os restantes professores seguem-nos, por intuirem que algo de grave se pode passar que também os pode atingir.
Resta uma minoria, que optaram, definitivamente, por serem comissários políticos, e não já professores.